Dia da Consciência Negra – Texto por Lúcia Helena
Sábado,20 de novembro de 2021 – Dia da consciência negra.
Vamos olhar um pedaço de raízes históricas de branquitude brasileira?
Hoje eu viajava e podia abrir a janela do carro. Bem curtinho meu cabelo não voava. Me lembrava então de como era importante, na minha adolescência e pré adolescência manter liso e comportado o meu cabelo crespo.. Minha identidade e auto estima dependiam disso. Até deixei de ir a algumas festas porque lá no Rio de Janeiro chovia frequentemente nas férias de verão e o cabelo esticado numa touca durante toda a tarde, umedecia com a chuva, enrolava e aí era o fracasso.
No universo de minha mãe, pai, vizinhos e até na minha escola pública, a raça branca, com seu cabelo e corpo, era internalizada como a perfeição do indivíduo “civilizado”: masculino, branco e europeu. A eugenia importada da Europa e Estados Unidos considerava os indivíduos pertencentes à raça negra (assim como indígenas e orientais), incapazes de civilizar-se e tiveram suas características físicas rejeitadas.
Assim, estética e beleza sedimentaram-se como fatores fundamentais na discriminação entre as culturas e civilizações.
A mulher brasileira perfeita deveria “cultivar em seu corpo a beleza honesta por meio de estímulos fisiológicos dos exercícios ginásticos – sua beleza deve ser natural e higiênica. Saúde, honestidade, robustez e formosura são predicados que se tornaram centrais” (Silva & Goellner, 2008, p. 257). tornando-se o ideal a ser perseguido.
‘Uma pela branca, delicada e fina dentro da qual se vê circular a vida, deve ser o ideal de toda mulher’. Peles encardidas, conforme anunciava a propaganda, precisavam ser regeneradas” (SANT’ANNA, 2014, p. 76).
Com o slogan: “Limpa e alveja a pele”, percebemos o quão comum era a proposição de embranquecimento da pele, para um apuramento da beleza, tendendo a fixar na memória e no discurso feminino a associação entre limpeza, brancura e beleza.
E nós, da Core Energetics, sabemos a força das imagens de massa e os moldes que ficam gravados, impregnados na Substância da Alma. É parte ESTRUTURAL de nosso trabalho pessoal e grupal reconhecer e trabalhar transformando essas imagens – um trabalho cotidiano e anti racista.
Hoje agradeço todo o trabalho dos hippies do Flower Power e os militantes do Black Power que reivindicaram mais liberdade, igualdade de direitos e liberaram meu cabelo e a sexualidade do meu corpo.
Tudo que se seguiu de transformação e conquista é ESTRUTURALMENTE importante. A negritude é maioria numérica nesse pais e no entanto, segue minoria nos direitos cotidianos, sociais e econômicos.
Comecei com curtos cabelos ao vento e quero hoje, fechar essa simples reflexão com essa indicação:
Sem perder a raiz
Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra O cabelo é analisado na obra de Nilma Lino Gomes não apenas como parte integrante do corpo individual e biológico, mas, sobretudo, como corpo social e linguagem, como veículo de expressão e símbolo de resistência cultural. A conscientização sobre as possibilidades positivas do próprio cabelo oferece uma notável contribuição no processo de reabilitação do corpo negro e na reversão das representações pejorativas presentes no imaginário herdado de uma cultura racista.
E reabrir o convite para reflexão e produção intelectual, dentro da Core Energetics, também sobre o Corpo Negro, individual, biológico, caracterológico, social e político.
Que venham mais TERAPRETAS!