Sonhos Noturnos e a Desconstrução Intencional das Imagens Negativas de Si MESMO
Jornal Energia e Consciência Volume 2 1992
Por Francis X. Clifton
Introdução
Como construir exercícios imaginais individualizados que, se praticados, irão desconstruir as imagens negativas de si mesmo é o tema deste artigo. Para construir esses exercícios imaginais, devemos primeiro ser capazes de contatar essas identidades negativas dentro de nós mesmos, e os sonhos noturnos são uma maneira de fazer isso. Portanto, será introduzida uma análise dos sonhos noturnos sob a perspectiva da fenomenologia psicológica antes de instruirmos sobre a construção de exercícios imaginais.
Descobrir o “o que é” negativo de nossas vidas e desconstruir a identidade de si mesmo andam de mãos dadas, porque, se não estamos cientes de uma determinada identificação negativa de nós mesmos, não somos livres para mudá-la.
Sob a perspectiva fenomenológica, os sonhos noturnos podem ser vistos como a presença direta do “o que é” de nossas vidas. Os sonhos noturnos são acontecimentos essenciais nos quais encontramos certos fenômenos entrando em nossa abertura e receptividade. Às vezes, nos sonhos, nos vemos existindo em modos específicos de ser. Pode ser um modo de medo, raiva, evitação, expansividade ou um dos literalmente milhões de modos que podemos existir enquanto seres humanos. A experiência de sonhar nos oferece a oportunidade única de ser simultaneamente o observador e o observado e, através dessa observação e experiência de nós mesmos vivendo de determinada maneira no sonho, somos capazes de aceitar esse modo de ser como nosso, seja o modo considerado positivo ou negativo.
Além de nos vermos existindo em certas formas de ser em nossos sonhos, também nos vemos em relação a certos fenômenos que aparecem, seja uma pessoa, lugar ou coisa. Por que essas pessoas, lugares ou coisas específicas, dentre as bilhões de imagens que poderiam ter entrado em nosso sonho, aparecem, é uma questão que esta abordagem sempre busca responder. Além de descobrir o significado das pessoas, lugares ou coisas que aparecem, o sonho sempre deve ser compreendido historicamente. Às vezes, exemplos de sonhos revelam dramaticamente um fator histórico em nossas vidas.
Por exemplo, o sonho de um professor universitário de matemática de 35 anos, durante um período de seis meses. Ele tinha uma excelente capacidade de recordar seus sonhos e, durante esse período, 80% de seus sonhos o encontravam nos primeiros dois anos do ensino médio. Noite após noite, ele estava em sua escola antiga: sentava na sala de aula, comia no refeitório e vagava pelos corredores. Esse homem havia iniciado um tratamento para lidar com sentimentos de depressão e sua incapacidade de desenvolver relacionamentos com mulheres. Ele era um gênio da matemática e havia sido admitido em uma universidade da Ivy League após seu segundo ano do ensino médio. Ao revisar seus sonhos, ele afirmou que estar no ensino médio foi a última vez que se sentiu socialmente confortável. Ele se sentia igualmente desconfortável aos 15 anos na faculdade, assim como aos 17 anos, quando era doutorando. Os sonhos permitiram que ele visse que, em algum momento de sua vida, ele se sentiu socialmente confortável, e a partir daí, quando sonhava em se ver como socialmente alienado, exercícios de imaginação foram desenvolvidos para desconstruir essa imagem de si mesmo.
Sonhos, Presença e Deconstrução
O primeiro sonho desta série foi relatado por uma mulher na faixa dos 40 anos que entrou nesta forma de terapia porque sentia que estava em um novo limiar de sua vida e estava experimentando confusão e ansiedade.
– Eu sonhei que estava caminhando por uma cidade montanhosa e cheguei a um dormitório universitário. Eu era uma nova aluna. Em seguida, me vi na escola de enfermagem, onde me inscrevi para as aulas. Mas, enquanto fazia isso, eu sentia que estava esquecendo meu propósito principal. Todos os professores e enfermeiras queriam que eu ficasse, mas eu queria fugir e chegar ao lugar onde deveria estar.
O sonho a encontra existindo como uma nova aluna universitária, tendo se estabelecido em um dormitório após subir uma colina. Quando questionada sobre como essa parte do sonho se relacionava com sua vida atual, ela afirmou que refletia sua sensação de estar começando algo novo em sua vida, embora estivesse ansiosa, da mesma forma que estava quando começou a faculdade anos atrás. Ela afirmou que a residência no dormitório se relacionava com sua tendência de lotar sua vida, uma vida muitas vezes sem privacidade.
Na próxima parte do sonho, ela se vê se inscrevendo na escola de enfermagem, mas sente que está esquecendo seu propósito principal. O que a escola de enfermagem tem a ver com sua vida e como isso se relaciona com o esquecimento de seu propósito principal? A vida dessa mulher sempre foi uma de cuidar dos outros: pais, irmãos, parceiros e funcionários. Não foi surpresa para ela que estivesse entrando na escola de enfermagem. O que a surpreendeu foi que esse modo de ser (inscrever-se na escola de enfermagem) a impediu de perceber seu propósito principal.
A parte final do sonho a vê ciente de querer fugir da escola de enfermagem para encontrar o lugar onde ela deveria estar. Professores e enfermeiras tentam persuadi-la a ficar, mas ela quer ir embora. O sonho termina com ela querendo ir, mas ao mesmo tempo ouvindo as pessoas que querem que ela fique. Ela rapidamente percebeu que em sua vida desperta, sempre que se afastava de ser essa pessoa “cuidadora”, ouvia os protestos dos outros.
Esse sonho revela um modo de ser em que ela se nega em prol dos outros. O auto-sacrifício é uma qualidade admirável, mas quando é uma reação habitual e não uma escolha autêntica, acaba se tornando uma forma de obscurecer a si mesma. Neste sonho, essa mulher de 45 anos não sabe qual é seu propósito principal. Outros (professores e enfermeiras) facilmente lhe atribuem um, mas ela só sabe que não quer estar ali. Em termos fenomenológicos, pode-se dizer que esse modo de ser dela (auto sacrificante) bloqueia sua abertura e receptividade para descobrir seu propósito principal em diferentes momentos de sua vida. Esse modo de ser, essa identidade de “cuidar dos outros”, precisa ser desconstruído antes que ela possa se abrir para novos horizontes.
Conclusão
Este artigo abordou exclusivamente a presença de identidades negativas dentro de nós que se manifestam nos sonhos noturnos, mas deve-se entender que essas imagens negativas também podem surgir em exercícios imaginais. Vimos que o processo de deconstrução imaginal é realmente um processo em duas partes. Primeiro, é uma prática de atenção a si mesmo que busca trazer maior consciência das identidades negativas dentro de nós. Essas identidades negativas obscurecem nossa abertura e receptividade para novos modos de ser ou, dito de outra forma, essas imagens negativas bloqueiam nosso processo de transformação.
Segundo, é uma prática de intenção de si mesmo, na qual realizamos exercícios imaginais com a intenção específica de desconstruir um modo particular de ser. O termo “exercício” origina-se do latim ex-arcere, que significa “expulsar de uma área fechada”. Isso é exatamente o que esses exercícios imaginais de deconstrução têm a intenção de realizar, já que a prática do exercício é tirar a nós mesmos da prisão de nossas identidades negativas.
Desconstrução
Prática de Autoatenção
- Descobrindo o modo negativo de “o que é” em nós mesmos que aparece como imagens dentro de nossos sonhos ou imaginação.
- Aceitando diariamente, por várias semanas, essa identidade negativa como nossa.
Modos Negativos de Ser Identificados:
A. Modo de ser o cuidador automático.
B. Modo de ser em que não se consegue voar em direção ao horizonte.
C. Modo de ser em que a sensualidade e a sexualidade se enrijecem.
D. Modo de ser que nega o próprio poder.
E. Modo de ser que se afasta de indivíduos agressivos e competitivos.
F. Modo de ser em que se está preso e afundado até os joelhos em um pântano lamacento, com os pais e irmãos olhando de cima.
Prática de Auto-Intenção
- Com a aceitação dessa identidade negativa, vem a intenção de “deixar ir”.
- Exercícios imaginais que devem ser realizados diariamente por várias semanas para deconstruir intencionalmente o modo negativo de ser.
Exercícios Imaginais Correspondentes:
A. Ver, sentir e experimentar-se fugindo da escola de enfermagem.
B. Ver, sentir e experimentar-se tomando o controle do pai e pilotando a máquina.
C. Ver, sentir e experimentar-se escoltando os pais para fora do quarto.
D. Ver, sentir e experimentar-se descongelando e fazendo amizade (brincando) com a pantera negra.
E. Ver, sentir e experimentar-se competindo contra cada estudante em um concurso de saltos.
F. Ver, sentir e experimentar-se extraindo a si mesmo de sua própria imobilidade no pântano e subindo para o nível de seus pais e irmãos.
