Praticas Corporais e as Experiências Extraordinárias em Core Energetics: por Thais de Queiroz e Silva
Este não é um simples artigo, deixaremos aqui disponível por escrito apenas o Resumo e a Introdução deste extenso trabalho de pesquisa realizado por Thais Queiroz, uma de nossas professoras e terapeutas, sobre a Core Energetics. Por se tratar de um trabalho de conclusão de curso da Faculdade de Educação Física na Universidade de Brasília, deixaremos o link abaixo para fazer o download do trabalho completo para todos aqueles que se interessarem em aprofundar neste estudo.
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo entender a Core Energetics como uma abordagem terapêutica que possibilita, a partir das práticas corporais, uma experiência mais complexa que apenas o exercitar do corpo propriamente. Bem como, compreender os sentidos/significados atribuídos pelos participantes ao processo vivido pela e na experiência. Para isso, envolveu diálogos com diferentes áreas do conhecimento como a terapêutica e as Ciências Sociais. Os mediadores principais foram Pierrakos (1987), criador dessa abordagem terapêutica psico-física-emocionalespiritual e Csordas (2008), antropólogo interessado em entender os rituais de cura religiosos, propondo um entendimento da cura a partir da corporeidade humana. Os instrumentos metodológicos de pesquisa foram qualitativos e se constituíram de: observação participante, entrevista, análise de documentos e redação redigida pelos sujeitos após a realização
da prática corporal. No final, o estudo abordou os sentidos/significados dados pelos sujeitos para suas experiências, o efeito incremental da cura e apontou que quem cura é o Deus interno. Indicou também que as práticas corporais seriam as promotoras desse encontro extraordinário com o sagrado em cada ser humano.
INTRODUÇÃO
A presente dissertação tem como tema de investigação a relação estabelecida entre a corporeidade e a terapêutica por meio do estudo da Core Energetics. Tendo as práticas corporais dessa abordagem como foco do trabalho, procurei estabelecer canais de diálogo com o campo das Ciências Humanas e Sociais, nesse particular entre a Antropologia e Sociologia e a Educação Física. Relacionei textos, imagens, experiências, relatos escritos e a própria experiência corporal da pesquisadora, para então formular uma compreensão desse todo complexo que é a experiência vivida pelos participantes de Core Energetics com as práticas corporais. Reconheço que a literatura na área das psicoterapias corporais, principalmente da Core Energetics, não é abundante em termos quantitativos, e muitos são materiais de aula. Isto pode ser compreensível, uma vez que o próprio exercício de escrever sobre o assunto e publicar livros e artigos exige um alto grau de complexidade, pois tentar compreender as experiências dessas abordagens terapêuticas corporais é também buscar atravessar a dificuldade de encontrar expressão para o vivido por seus participantes na e pela prática corporal, e também atravessar a dificuldade de encontrar uma escrita que dê sentido à experiência, juntando dentro de um mesmo fenômeno diversos aspectos que o compõe – físico, emocional, mental, social e espiritual. Talvez esse seja nosso grande desafio: compreender esse processo da Pessoa Total (PIERRAKOS, 1987), construindo-se aqui uma analogia com a compreensão mausiana de Homem Total (MAUSS, 2003), resgatando os aspectos amortecidos ou esquecidos acerca “do ser” dentro da literatura científica. Minha experiência de oito anos de trabalho terapêutico com a Core Energetics, vivendo no e com o corpo experiências transformativas, mobilizou-me a realizar essa pesquisa. Em campo, registrei as práticas corporais coletivas de chegada dos alunos ao curso de formação em Core Energetics em Brasília, dessa vez como pesquisadora e não como terapeuta. Destaco durante o texto a problematização em assumir esse novo papel dentro do grupo, de terapeuta para pesquisadora. E ainda, assumo a relevância de ser uma pesquisadora que reflete sobre algo que se passa na experiência do sujeito pesquisado, tendo eu mesma experienciado tais vivências anteriormente. Sendo assim, o objetivo foi entender a Core Energetics como uma abordagem terapêutica que possibilita, a partir das práticas corporais, uma experiência mais complexa que apenas o exercitar do corpo propriamente. Bem como, compreender os sentidos/significados atribuídos pelos participantes ao processo vivido pela e na experiência. Para realizar o trabalho, assumi dois marcos. O primeiro foi descrever a Core Energetics como um processo terapêutico que faz emergir o que está reprimido pelo sujeito, através da experiência vivida pela e na prática corporal, possibilitando aflorar a Pessoa Total. Apoiada na metodologia da corporeidade de Csordas (2008), a compreensão está baseada na visão de que todo o vivido (historicidade emocional, social, biológica e espiritual) do sujeito está ancorado no corpo, e a corporeidade refere-se à composição desses arranjos. O segundo está apoiado na experiência vivenciada por cada sujeito praticante da Core Energetics pela e na corporeidade e que sentidos/significados são a ela atribuídos. No primeiro capítulo contextualizarei a Core Energetics no âmbito das abordagens terapêuticas direcionadas ao corpo, centralizando-a e tornado-a o ponto de partida das minhas reflexões. Com isso, colocarei a prática corporal dessa abordagem como o foco da problematização desse estudo, distanciando-a do entendimento de que o movimento é uma técnica
corporal programada e vazia de sentido. Também, refletirei sobre as ‘práticas corporais’ considerando-as como um termo que ainda não possui um conceito ‘fechado’ dentro da ciência (LAZAROTTI et al, 2010).
Direciono-me, dentro da Educação Física, para o exercício de aumentar as possibilidades de reflexão contínua e necessária para se firmar algo mais consistente com essa temática. A discussão das práticas corporais é algo caro para esse estudo, pois parto de que é pela prática corporal e através dela que a experiência, à qual chamarei durante o texto de extraordinária, pode acontecer. No segundo capítulo, apresento o desenho metodológico da pesquisa, abordando minha experiência como pesquisadora, no intuito de pensar a construção complexa do conhecimento a partir do próprio corpo do pesquisador; e, ainda, como está, então, estruturado meu olhar sobre o objeto. Avanço na tentativa de utilizar a metodologia da corporeidade (CSORDAS, 2008) como ferramenta de compreensão dos processos que acontecem ao focar as práticas corporais como promotoras de experiências extraordinárias dentro da terapêutica. E reflito sobre os instrumentos de pesquisa utilizados, principalmente naquele que me permitirá alcançar como compreender os sentidos/significados dados pelos participantes ao realizarem a prática corporal. No capítulo três será descrita a prática corporal em Core Energetics como um p procedimento que intensifica os processos endógenos experienciados pelos participantes. O campo de observação foram as aulas de formação para terapeutas em Core Energetics que acontecem na Universidade da Paz, em Brasília, e os sujeitos, os alunos. A descrição dessa vivência foi compreendida e apresentada no texto como um reflexo da minha própria experiência anterior, ou seja, meu corpo não se põe de forma neutra, apenas como uma pesquisadora que observa e analisa, mas é corpo como reflexo e reflexão da experiência vivida anteriormente. O texto é constituído então, de uma reflexão fenomenológica, dando-me suporte ao entendimento de que o que é descrito e compreendido foi elaborado a partir de uma arquitetura de sensações, sentimentos e cognições experimentadas por mim diante da relação estabelecida com o mundo pesquisado. No capítulo quatro serão apresentados os sentidos atribuídos pelos participantes às práticas corporais, pois é na execução delas que os conhecimentos dos sujeitos sobre si e sobre sua relação com o mundo emergem. O corpo fenomênico, “não dicotomizado”, ganhará então espaço privilegiado e a discussão se pautará no paradigma da corporeidade como entendimento de que “o corpo seja compreendido como a base existencial da cultura – não como um objeto que é ‘bom pra pensar’, mas como um sujeito que é ‘necessário para ser” (CSORDAS, 2008, p. 367). Isso significa, como escreveu Lowen (1982, p. 37), que “a vida de um indivíduo é a vida de seu corpo”. Assim, descreverei a partir de Csordas (2008) uma reflexão paralela entre os processos de cura terapêutica religiosa e a terapêutica corporal de Pierrakos (1987). Essa relação está no entendimento de que a Core Energetics possui algo próximo das curas religiosas estudadas por Csordas,
pois ela não está preocupada apenas com o bem estar físico de seus pacientes. Ao executar as práticas corporais terapêuticas, o corpo libera emoções oprimidas, estabelecendo um fluxo entre físico, emocional, mental, social e espiritual possibilitando então, uma auto-transformação, nas palavras de Pierrakos (1987), ou a realização de uma mudança, nas palavras de Csordas (2008). Para ambos a cura pode ser entendida como um processo existencial envolvendo sofrimento e salvação ou, também,
doença e cura. É essa auto-transformação (PIERRAKOS, 1987), ou mudança (CSORDAS, 2008), alcançada através das práticas corporais em Core Energetics que podem fazer do corpo então, um solo existencial de cultura. Pois seria a partir das experiências vividas nele e como ele, que a transformação/mudança aconteceria e a partir dele novas formas de viver e fazer cultura, também, podem emergir.