Epidauro: Um Santuário Sagrado na Grécia
Epidauro: Um Santuário Sagrado na Grécia
Por Ralf Homberg, M.D.
Epidauro (em grego, Epidavros) é um antigo centro de culto e cura localizado no nordeste da península do Peloponeso. O Peloponeso é uma região da Grécia continental, conectada ao continente pelo istmo de Corinto, com cerca de 16 quilômetros de largura. Possui uma área de 8.350 milhas quadradas, aproximadamente o tamanho do estado de Massachusetts, e abriga uma população de mais de um milhão de pessoas.
Entre 431 a.C. e 404 a.C., duas grandes potências gregas, os espartanos (ou peloponésios) e os atenienses (da Grécia continental), lutaram pela supremacia territorial durante a Guerra do Peloponeso, que terminou com a vitória dos espartanos. Se imaginarmos o Peloponeso como uma mão, Epidauro estaria situada na lateral do “polegar”, na costa sul do Golfo de Argo, a cerca de 90 quilômetros a sudoeste de Pireu e Atenas.
Epidauro foi um local dedicado à adoração do deus da cura, Asclépio. O culto a Asclépio ocorria no santuário conhecido como Asclepeion, que também funcionava como um grande sanatório. Graças ao trabalho incansável dos arqueólogos gregos Kavvadias e Papadimitriou, assim como de outros estudiosos, um grande número de ruínas organizadas foi descoberto desde 1881. Esses achados incluem estruturas que datam dos séculos IV e III a.C. e oferecem informações valiosas sobre práticas terapêuticas avançadas, incluindo métodos holísticos e psicossomáticos.
Os sacerdotes-médicos desempenhavam um papel central no processo de cura. Entre os principais edifícios do complexo, destacam-se:
- O templo de Asclépio, que abrigava uma estátua dourada do deus;
- O Tholos, um templo circular;
- O Abaton ou Enkoimeterion, um grande dormitório de incubação de sonhos;
- O Katagogion, um alojamento para hóspedes;
- E o bem preservado teatro ao ar livre, famoso por apresentações de dramas e tragédias, ainda elogiado no século II d.C. por Pausânias, escritor e poeta grego.
Inscrições votivas em estelas (placas de pedra) documentam curas milagrosas, frequentemente atribuídas ao sono de incubação. Entre os achados, estão duas placas de mármore contendo relatos de 43 casos de cura, datados do século IV a.C. Esses registros são similares aos costumes de peregrinações cristãs. Casos de pessoas paralisadas, coxas ou cegas que encontraram cura surpreendem até mesmo a ciência moderna.
A vila atual de Epidauro está situada entre florestas de pinheiros e planícies férteis, rodeada por altas montanhas que fornecem passagens estreitas para Argos e Corinto. O clima é quente e úmido. O antigo porto marítimo era um importante ponto de conexão no Golfo Sarônico, facilitando o acesso ao santuário.
A estrada que conectava o santuário ao porto atravessava bosques de pinheiros e oliveiras e terminava no Propileu, um grande portal com colunas jônicas e coríntias. Na entrada do templo, uma inscrição exigia pureza de quem adentrava, sugerindo que apenas aqueles com intenções e pensamentos sagrados eram bem-vindos.
Dentro do santuário, as pessoas eram convidadas a esquecer suas preocupações mundanas e buscar harmonia espiritual. O santuário simbolizava um espaço atemporal, onde a vida não tinha começo nem fim, e a busca pela cura envolvia práticas integradas entre o físico, o emocional e o espiritual.
Práticas de cura e simbolismos
Os sacerdotes induziam sonhos nos pacientes, que buscavam mensagens de Asclépio para sua cura. Muitas vezes, cerimônias envolviam o uso de cobras sagradas, consideradas símbolos de sabedoria e cura. Esses rituais, combinados com tratamentos racionais, como banhos, massagens e até mesmo cirurgias, ofereciam alívio aos sofredores.
O culto a Asclépio espalhou-se por todo o mundo grego e, mais tarde, pelo romano, sobrevivendo à queda dos deuses olímpicos e às mudanças religiosas. Após o advento do cristianismo, o culto permaneceu vivo por séculos, sendo mencionado ainda no século V d.C.
A figura de Asclépio, tanto como deus quanto como médico, representa a integração do conhecimento humano com o divino. Seu cajado entrelaçado por uma cobra tornou-se um símbolo universal da medicina, e sua abordagem holística inspira práticas terapêuticas até os dias de hoje.
Referências Bibliográficas
- Archontidou-Argyri, Aglaia. Epidauros. Delta Verlag, 1979.
- Bettmann, Otto L. Uma História Pictórica da Medicina. Charles C. Thomas Publisher, 1956.
- Papadakis, Theodoros. Epidauros: O Santuário de Asclépio. Verlag Schnell & Steiner, 1978.
- Pierrakos, John. Energia e Consciência, Volume 1. 1991.
- Toelner, Richard. História Ilustrada da Medicina, Volume I. Andreas Verlag, 1990.