Trabalhando com Trauma Genital por Barbara G. Koopman
Trabalhando com Trauma Genital
Barbara G. Koopman, M.D., Ph.D.
Publicado na revista ENERGIA E CONSCIÊNCIA, vol. 7, 1999
R. é um homem branco, casado, de 36 anos, estrangeiro, que trabalha com importação e exportação. Veio para os Estados Unidos sete anos antes para iniciar terapia orgônica. Suas principais queixas eram ejaculação precoce e “incapacidade de expressar agressividade”. Ele passou por seis meses de terapia, que considerou muito positiva, com melhorias significativas. Em alguns momentos, surpreendia-se respondendo com raiva sem pensar, o que, embora positivo como sinal de espontaneidade, também quase lhe custou o emprego e amizades próximas.
Quando seu terapeuta se mudou de estado, R. foi morar em Nova York, mas perdeu os avanços conquistados. Voltou a apresentar dificuldades sexuais, depressão, sensação de desconexão e pensamentos obsessivos. Após cinco anos sem terapia, iniciou tratamento comigo em outubro de 1990. Devido a dificuldades financeiras, as sessões foram esporádicas, totalizando 39 encontros até o momento desta escrita.
Exame Psíquico e Bioenergético
R. se apresentou como um homem inteligente, de fala suave, com aparência apropriada e porte físico mediano. Seu comportamento era agradável, submisso, cauteloso e distante, com pouco contato visual. A afetividade era restrita; a fala, divagante e obsessiva.
No exame bioenergético, seu campo mostrava-se “estagnado”, com pouca mobilidade ou carga. A postura corporal era rígida, com acúmulo de couraça nos olhos, mandíbula, garganta e tórax. O diafragma estava contraído, e a pelve imóvel. A couraça não era fortemente muscular, mas se manifestava por rigidez e anorgonia (ausência de prazer vital).
História Infantil
R. é o segundo filho de uma família de classe média do interior. Seu irmão mais velho, atlético e popular, o ridicularizava, chamando-o de “menina” ou “maricas” quando ele chorava. Tinha três irmãs mais novas, com uma das quais mantinha certa proximidade. O pai era distante e emocionalmente ausente; a mãe, limitada e sobrecarregada, não conseguia protegê-lo das provocações do irmão.
Apesar disso, R. guarda boas lembranças da infância até os sete anos, quando passou por uma série de cirurgias devido a um testículo não-descido. A última intervenção incluiu uma circuncisão completamente desnecessária, feita sob o argumento de que ele “urinava torto”. Descobriu-se depois que médicos riam dele, dizendo que seu pênis enfaixado parecia um “velhinho”. Ele foi submetido a banhos dolorosos de camomila quente para amolecer os pontos. Não foi preparado emocionalmente, nem informado de que seria operado. Acordou da cirurgia já com os pontos.
Processo Terapêutico
Inicialmente, o foco foi observar e corrigir reações transferenciais, buscando desfazer projeções e distorções da realidade de forma empática, o que ajudou a construir uma relação de confiança. Como suas feridas eram muito profundas, esse trabalho teve de ser contínuo, delicado e repetitivo. Os temas sexuais e agressivos estavam profundamente conectados ao trauma genital precoce. Por isso, busquei criar um ambiente seguro, acolhedor e sem julgamentos — reforçando que ele não estava sozinho e que eu era sua aliada incondicional, independentemente de seu desempenho.
Devido à sua estagnação energética e depressão, também trabalhei seu corpo vigorosamente, sempre com seu consentimento. Como o diafragma está localizado sobre o centro autônomo do campo energético, propus como exercício a ingestão e regurgitação de seis copos de água morna diariamente, para mobilizá-lo. Ele respondeu positivamente.
Na entrevista inicial, R., que não chorava há anos, surpreendeu-se com um choro espontâneo ao acessarmos pela primeira vez o trauma genital da infância. Ao longo das sessões, novas memórias esquecidas emergiram de forma espontânea, resultado do contato empático e do trabalho corporal. Nunca o direcionei a um sentimento específico, mas permiti que fosse guiado por seu próprio campo energético.
Em alguns momentos, surgia raiva, mas o afeto predominante era a dor pela perda genital. Exemplo disso foi a exclamação: “Perdi meu pênis”, quando reviveu a circuncisão aos 10 anos. Nessas ocasiões, voltava a falar em sua língua materna, apesar de seu excelente inglês. Esses sentimentos estavam ligados a sensações de abandono e isolamento profundos.
Comentário
O crescente foco no abuso infantil e suas consequências, como exemplificado pelo trabalho de Alice Miller, tem sido valioso para reconhecer a importância de recuperar traumas infantis e revelar seu papel fundamental na formação de defesas psíquicas. Em O Drama da Criança Bem Dotada (seu melhor trabalho, na minha opinião), Miller amplia o conceito de abuso infantil para incluir o abuso emocional e a carência afetiva — algo que Reich já identificava como os efeitos destrutivos do “condicionamento bioelétrico negativo”.
Miller mostra que mesmo pais “bondosos” podem causar danos profundos por sua incapacidade de ressonância emocional — algo que a orgonomia entende como ausência de contato orgonótico.
No caso de R., vemos a combinação de privação emocional precoce, pais sem contato afetivo e um irmão fálico que menosprezou sua masculinidade e inibiu sua expressão emocional. Mesmo que o trauma genital não tivesse ocorrido, se R. tivesse tido o que Winnicott chamou de um ambiente de “sustentação afetiva”, poderia ter se desenvolvido de forma mais saudável.
A combinação entre privação emocional, insensibilidade e cirurgias invasivas levou R. a desenvolver defesas de ocultamento, distanciamento, submissão e intelectualização — formas de sobreviver à dor psíquica e genital.
No fundo, todos os pacientes constroem defesas contra a genitalidade — entendida como a capacidade de direcionar a energia vital ao mundo com empatia, criatividade e autoexpressão. Essas defesas frequentemente revelam feridas tão profundas que confiar se torna quase impossível.
R. começou sua jornada com muitos obstáculos. No entanto, é um indivíduo decente e com grande potencial, que agora mostra sinais de abertura e conexão crescente consigo mesmo e com os outros.
Barbara G. Koopman, M.D., Ph.D.
Psiquiatra e analista reichiana. Texto publicado originalmente em Energy & Consciousness, vol. 7, 1999.
