Os efeitos da Core Energetics nos níveis de estresse e no funcionamento imune de indivíduos HIV Positivo por Ethan Dufault
(Considerações prévias: Este presente estudo foi publicado no jornal Energia e Consciência em 1991, há aproximadamente 33 anos atrás. O tema estudado é um assunto que avançou bastante em sua compreensão da época para os dias de hoje. Solicitamos ao leitor que compreenda este texto como um documento histórico da Core Energetics e absorva deste o melhor que puder, compreendendo suas limitações e possíveis compreensões já não atuais sobre um assunto de certa forma sensível. Também ressaltamos que nenhuma terapia alternativa e de suporte substitui tratemtentos médicos convencionais, apenas complementam através de outras vias em pro da saúde do indivíduo. Boa leitura!)
Introdução
“O chamado corpo é uma porção da alma discernida pelos cinco sentidos.” – William Blake
Estudos recentes que exploram a relação entre o estresse psicossocial, o funcionamento imunológico e estados de doença indicaram que o estresse gerado por fatores de personalidade e métodos de enfrentamento pode ser um cofator na suscetibilidade, progressão e prognóstico de doenças (Achterberg, Lawlis, Simonton & Mathews Simonton, 1977; Sklar, Anisman, 1981; Sklar, Bruto, Anisman, 1981). A ligação entre o estado mental e o funcionamento imunológico também pode ser relevante na Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), como sugerido por Coates, Temoshok & Mandel, 1984; Temoshok, 1987; Moulton, Sweet, Temoshok, Mandel, 1987; Zich, Temoshok, 1987; Laperriere, Schneiderman, Antoni, Fletcher, no prelo. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito para estabelecer esse fato.
Além disso, problemas metodológicos abundam na determinação desse tipo de questão, pois existem inúmeras interações “multifatoriais bidirecionais” (Temoshok, Solomon, 1987, p. 287) envolvidas na resposta imunológica. Essas interações incluem interdependências entre fatores psicossociais (FP), o Sistema Nervoso Central (SNC), o Sistema Endócrino (SNE), o Sistema Imunológico (SI) e outros, bem como entre esses sistemas e um antígeno específico, como o HIV.
Essa pesquisa psicossocial é de extrema importância, pois, embora ainda não tenha sido desenvolvida uma vacina para a AIDS e considerando a composição molecular da bainha proteica do vírus (Hall, 1988), é improvável que uma vacina seja encontrada no futuro próximo. Como o período de latência da AIDS (ou doença do HIV, também chamada de Complexo Relacionado à AIDS [ARC]) varia de um a quinze anos, e devido à dificuldade de quantificar fatores psicossociais e outros aspectos intangíveis, esta pesquisa é urgente.
Este estudo parte da premissa de que uma das variáveis “difíceis de quantificar” pode ser a bioenergia, ou Orgone, como isolada por Wilhelm Reich durante seus estudos sobre a Biopatia do Câncer. Reich foi o primeiro na medicina ocidental a tentar provar que a capacidade de um organismo se defender contra o câncer e outras doenças depende da presença de uma pulsação bioenergética ótima no corpo. Embora conceitos de energia (como chi e prana) sejam fundamentais nas práticas médicas chinesa e ayurvédica há milênios, foi apenas com a pesquisa de Reich que essa ideia começou a ser aplicada no Ocidente.
Medicina Psicossomática e Reich
De acordo com a pesquisa psicossomática, vivemos em uma sociedade que frequentemente nos apresenta demandas que superam nossa capacidade de resposta. Além disso, muitas pessoas sofrem de padrões caracterológicos que, em certos casos, dificultam uma adaptação saudável às exigências da vida. As formações de compromisso, definidas por Freud como neuroses, são frequentemente prejudiciais. Quando indivíduos reprimem seus impulsos agressivos e libidinais para se ajustarem às demandas sociais e do ego, acabam sacrificando seu funcionamento emocional espontâneo, tornando-se mais vulneráveis a doenças.
Quando atitudes como competitividade, agressividade e hostilidade são inibidas no comportamento voluntário, o sistema adrenal simpático entra em excitação sustentada, levando a sintomas vegetativos resultantes da ativação prolongada do sistema nervoso simpático (Alexander, 1950). Reich foi um dos principais proponentes de uma visão psicossomática da saúde e doença, e suas teorias sobre energia bloqueada, decorrente de uma “blindagem” caracterológica, foram inovadoras, apesar de controversas.
Em sua pesquisa sobre o câncer, Reich introduziu o conceito de “biopatia”, que ele definiu como qualquer doença provocada por uma perturbação crônica na pulsação biológica do corpo. Embora sua teoria fosse considerada monoteológica (exagerando o componente psicológico), ela tentou racionalizar uma nova maneira de entender as doenças, que contrastava com a abordagem biomédica tradicional. Para neutralizar os efeitos dessa pulsação perturbada, Reich desenvolveu técnicas e teorias dentro da “Análise de Caráter”, que ajudaram terapeutas a facilitar o acesso do paciente e a liberação de emoções reprimidas, além de restaurar a energia corporal.
O Efeito da Energia no Corpo
Reich propôs que as estruturas defensivas do caráter, juntamente com a rigidez muscular, são fatores causais de muitas doenças, pois bloqueiam o fluxo natural de energia no corpo. A pulsação, um processo de contração e expansão que ocorre durante expressões emocionais (como riso, tristeza e raiva), é vital para o bem-estar. No entanto, o estresse emocional prolongado interfere nesse processo, tornando o corpo rígido, impedindo o fluxo adequado da energia e favorecendo o surgimento de doenças.
A solução proposta por Reich, Alexander Lowen e John Pierrakos (fundadores da Bioenergética e da Core Energetics) foi dissolver essa “blindagem” muscular por meio de técnicas como massagem, respiração profunda, movimentos faciais e corporais, e exercícios como socos e estiramento. Essas técnicas não só atuam sobre o corpo, mas também sobre a psique, ajudando a liberar padrões de defesa e restaurar o equilíbrio energético do organismo.
A Terapia Reichiana e o Estresse
A terapia reichiana pode ajudar na redução do estresse, promovendo um profundo relaxamento através da liberação emocional e ativação dos sistemas respiratório e cardiovascular. Diversos estudos comportamentais sugerem que intervenções psicossociais que induzem esses efeitos são benéficas tanto para indivíduos em geral quanto HIV positivos. Um estudo realizado na Universidade de Miami examinou a relação entre parâmetros imunológicos e capacidade de enfrentamento em um grupo de alto risco para HIV. Os resultados mostraram que a expressão emocional, particularmente a raiva, estava correlacionada com melhorias no funcionamento imunológico.
Outro estudo investigou os efeitos de exercício aeróbico em pessoas de alto risco com e sem a doença HIV. O exercício resultou em benefícios psicológicos e fisiológicos, incluindo um aumento nas populações de linfócitos T, tanto para os HIV positivos quanto para os não infectados.
Objetivo do Estudo
Este estudo teve como objetivo investigar a eficácia da Core Energetics no tratamento de indivíduos HIV positivos, visando demonstrar uma correlação entre a liberação de bloqueios energéticos e melhorias no funcionamento imunológico. O estudo foi conduzido com oito indivíduos HIV positivos, sendo monitorados ao longo de dezesseis semanas para medir as mudanças nos níveis de estresse e nas funções imunológicas. O estudo tenta estabelecer uma conexão entre a intervenção psicoterapêutica e a imunomodulação, sugerindo que o trabalho com energia pode ser um cofator no início ou prognóstico da doença HIV.
Exercícios de Core Energetics Utilizados
A meditação foi usada em apenas duas ocasiões durante o programa. O diário foi utilizado intermitentemente como uma ferramenta de processo, principalmente, e começou a ser eliminado gradualmente ao final das 16 semanas. Como este artigo se concentra na utilidade da Core Energetics como uma terapia “alternativa” para pacientes HIV positivos, vamos nos concentrar neste aspecto da intervenção, deixando de lado a questão da influência dos outros dois aspectos da variável independente. No entanto, vale ressaltar que a meditação Nada Brahma poderia ser substituída por qualquer técnica voltada para a “resposta de relaxamento” (Benson, 1974, p. 117) e é recomendada para equilibrar a carga, muitas vezes intensa, que a Core Energetics pode gerar. O programa de diário utilizado foi o Método de Diário Intensivo de Ira Progoff (Progoff, 1975), que foi bastante útil para fornecer uma estrutura arquetípica em torno da qual os participantes puderam organizar sua experiência interna do HIV e da intervenção oferecida.
Os exercícios de Core Energetics aplicados foram diversos. Inicialmente, foram utilizados a cada duas semanas, e depois semanalmente, no último trimestre. Eles também foram usados para aquecer os participantes antes das sessões de escrita no diário. As técnicas foram aprendidas no programa de treinamento do Institute of Core Energetics, em Nova York. (Para descrições detalhadas de muitos dos exercícios, consulte o livro de Lowen, The Way to Vibrant Health, 1977). As instruções para os seguintes exercícios foram dadas:
- Aterramento
- O Arco
- Sobre o Rolo
- Vibração da Perna Reclinada
- A Onda Respiratória
- Corrida com Vocalização
- Pular no Lugar
- Bater Acima da Cabeça
- Socos
- Círculo de Ressonância
Mudanças Imunológicas Observadas
As mudanças nos fatores imunológicos indicam o possível impacto da intervenção com Core Energetics. Quatro dos oito indivíduos tiveram aumento nas contagens de linfócitos T-4, enquanto os outros quatro apresentaram diminuição. A proporção T-4/T-8 também mudou favoravelmente em todos os casos, exceto em um. No entanto, o debate sobre a função das células T-8 (suprimir a resposta imunológica ou realizar ação citotóxica) levanta dúvidas sobre os efeitos de sua redução. A diminuição das células T-8 pode diminuir a inibição do sistema imunológico, aumentando a resposta imune geral, ou pode ser prejudicial devido à redução das células citotóxicas, tornando o corpo mais vulnerável ao HIV. A questão ainda precisa de mais estudos para uma resposta conclusiva.
Análise das Contagens de Linfócitos
Apesar das variações nas contagens de linfócitos T-4 e T-8, os aumentos observados não foram estatisticamente significativos, já que permaneceram dentro da faixa de referência normal de 537-1.571 células. Mesmo quando houve aumento nas contagens de T-4, elas não ultrapassaram o nível de normalidade em indivíduos com contagens subnormais. No entanto, os aumentos em dois indivíduos (S4 e S6) foram consideráveis, comparáveis aos aumentos observados com o medicamento AZT.
Conclusão
Embora o estudo não tenha abordado questões sistêmicas amplas, como o impacto psicossocial/imunológico mais abrangente da intervenção, ele explorou os efeitos das intervenções psicocomportamentais, como a Core Energetics, no fortalecimento do sistema imunológico e no bem-estar psicossocial de indivíduos com HIV. Embora os resultados não provem uma resposta definitiva, sugerem que essas intervenções podem gerar aumentos imunológicos moderados e, pelo menos, promover uma sensação de controle e esperança, associada ao enfrentamento ativo da doença.
A Core Energetics, pode, de fato, ser uma técnica terapêutica importante, com potencial para influenciar positivamente a saúde emocional e física de indivíduos imunologicamente comprometidos. Embora a eficácia ainda não tenha sido completamente comprovada, as evidências sugerem um potencial real para melhorar a função imunológica. Além disso, a Core Energetics pode ser particularmente relevante em conjunto com intervenções médicas tradicionais, especialmente no tratamento de doenças como a AIDS, que causam grande impacto psicológico. A técnica é vantajosa devido ao uso do toque e de exercícios redutores de estresse, sendo adequada para pacientes enfrentando doenças fatais.
