📅 Calendário Atualizado 2025
📅 Calendário Atualizado – 2025
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Autorregulação por Jacqueline A. Carleton (Parte 2)
Tradução e organização – fiel ao texto original
Jacqueline A. Carleton, Ph.D.
Autorregulação em Perspectiva Sociopolítica
A partir de 1936, Wilhelm Reich passou a acreditar que o futuro da humanidade dependia de uma transformação radical da vida familiar: como nascemos, como somos criados e como nos tornamos pais.
Em 1940, ele fundou o grupo O Estudo da Criança Saudável, com foco em observar recém-nascidos e diferenciar saúde de patologia desde o início da vida. O objetivo era investigar como instituições sociais interferem no desenvolvimento natural e coletar relatos de educadores, médicos, enfermeiros, pais e cuidadores.
Reich considerava a autorregulação não como conceito teórico, mas como fato biológico observável: o bebê nasce com energia plástica e criativa, capaz de se relacionar com o ambiente e moldá-lo segundo suas necessidades. A tarefa da educação seria apenas remover obstáculos para esse fluxo vital.
A visão de A. S. Neill
Neill aplicava o termo autorregulação ao campo da educação. Para ele, tratava-se de comportamentos que nascem do self, sem compulsão externa.
Em Summerhill, a proposta era permitir que a criança crescesse em liberdade para seguir seus próprios ritmos e escolhas.
No entanto, Neill insistia: uma criança não pode ser mais autorregulada que seus cuidadores são. Portanto, os adultos também precisavam cultivar essa qualidade interna.
Escritos que detalham e aplicam a teoria
Após Reich e Neill, outros autores aprofundaram práticas e aplicações:
- Paul Martin (1942–43): propôs um modelo de criação “sex-econômica”, defendendo aleitamento sob demanda, respeito ao prazer corporal, naturalidade com masturbação infantil e liberdade de expressão emocional, sem repressão nem indulgência excessiva.
- Ilse Ollendorff, Felicia Saxe, Richard Singer, Elizabeth Tyson, Ernst Walter: descreveram métodos e casos clínicos, reforçando que a satisfação das necessidades primárias gera crianças seguras e independentes.
- Ellsworth Baker (1967, Man in the Trap): reuniu instruções práticas desde o pré-natal até a adolescência, destacando contato físico, alimentação natural e respeito ao desenvolvimento espontâneo.
Desafios após os anos 1960
Enquanto Reich e Neill lutaram contra o autoritarismo e a rigidez da era vitoriana, os anos 1960 trouxeram o extremo oposto: permissividade caótica.
- Patricia Greene observou que muitas crianças passaram a crescer sem limites claros e sem contato emocional profundo, sustentando-se de forma frágil diante da liberdade. Para ela, era necessário oferecer apenas a quantidade de liberdade que a criança podia tolerar.
- Barbara Koopman, em sua prática psiquiátrica, apontou que muitos jovens recebiam gratificação material em excesso, mas sem verdadeiro contato afetivo. O resultado era ansiedade, carência e falta de autorregulação. Ela enfatizava que autorregulação não é indulgência: necessidades básicas devem ser atendidas, mas com limites e responsabilidade.
Três tipos de literatura sobre criação autorregulada
A produção acadêmica e prática sobre o tema pode ser dividida em três eixos:
- Textos teóricos inovadores – Reich, Neill e Lane, que formularam o paradigma da autorregulação.
- Escritos interpretativos – autores que explicaram, popularizaram e organizaram as ideias centrais.
- Aplicações práticas e descrições etnográficas – relatos de escolas, famílias e profissionais que aplicaram esses princípios em sua experiência cotidiana.
Aplicações práticas
Diversos relatos publicados em jornais e livros mostraram como esses princípios eram vividos:
- Escolas como a Fifteenth Street School ou A Children’s Place relatavam o equilíbrio entre liberdade de expressão infantil e segurança afetiva.
- Famílias, como a dos Ritter, documentaram a experiência de criar filhos em liberdade responsável.
- Professores e cuidadores descreveram como crianças autorreguladas demonstravam mais saúde emocional, capacidade de lidar com frustrações e espontaneidade criativa.
Revisões críticas e comparações
Artigos em revistas especializadas comparavam constantemente a autorregulação com outras pedagogias (psicanalíticas, progressistas, tradicionais). Essa avaliação seguia três níveis:
- Obras consistentes com a autorregulação.
- Obras parcialmente alinhadas ou progressistas.
- Obras repressivas e sexonegativas.
Esse mapeamento ajudava leitores a compreender diferenças e aplicar princípios de forma consciente.
Conclusão
A diferença central entre a autorregulação e outras correntes é que ela não segue uma linha do tempo rígida de desenvolvimento. Não há expectativa de que todas as crianças passem pelos mesmos estágios em idades específicas. Cada uma encontra seu próprio ritmo: pode desmamar-se antes ou depois do esperado, aprender a usar o banheiro cedo ou tarde, explorar a sexualidade em momentos diferentes.
O princípio fundamental é: respeitar o fluxo vital individual e remover os bloqueios que distorcem a energia natural.
A mudança cultural será lenta, mas cada geração criada sob autorregulação poderá transformar o futuro. O papel dos adultos é não repetir erros, oferecer presença verdadeira e confiar na sabedoria inata da criança.
Guia Rápido: Autorregulação Infantil (Partes 1 e 2) (contribuição do blog)
| Tema | Princípios / Prática | Implicações para pais e terapeutas |
|---|---|---|
| Definição | Autorregulação: capacidade do organismo de ajustar-se a partir do núcleo, satisfazendo necessidades primárias sem coerção externa. | Foco em energia vital, fluxo natural e expressão do self. Adultos devem apoiar, não controlar. |
| Base histórica | Inspirada em A.S. Neill (Summerhill), Homer Lane (Little Commonwealth) e Wilhelm Reich (orgonomia, caráter e energia). | Entender a origem sociopolítica e biológica: liberdade com responsabilidade, não permissividade. |
| Contato e afeto | Contato visual e tátil desde o nascimento; acolher expressão emocional; presença genuína. | Criança segura e confiante; desenvolvimento de autonomia e criatividade. |
| Prazer corporal e sexualidade infantil | Aceitar exploração natural; masturbação respeitada; curiosidade genital entre pares. | Evitar repressão e superênfase. Ensinar limites sem culpas. |
| Ritmos orgânicos | Alimentação sob demanda; sono respeitado; desfralde conforme prontidão. | Cada criança tem seu próprio ritmo; não impor padrões rígidos. |
| Limites e liberdade | Liberdade proporcional à capacidade da criança de tolerar e se responsabilizar; expressão do núcleo vs. couraça. | Prevenir licenciosidade e permissividade caótica; estrutura que sustenta a autonomia. |
| Desenvolvimento emocional | Permitir raiva, choro, tristeza e frustração de forma segura; adultos modelam regulação emocional. | Crianças aprendem a lidar com emoções sem internalizar bloqueios ou tensões crônicas. |
| Aplicações práticas | Escolas livres, famílias autorreguladas, diários e estudos de caso: integração entre liberdade e segurança afetiva. | Orientação para intervenção prática: observar, adaptar e apoiar sem coação. |
| Objetivo final | Crianças autorreguladas contribuem para sociedade menos armada e mais integrada. | Mudança cultural gradual; adultos removem obstáculos, confiam na sabedoria inata da criança. |
Autorregulação por Jacqueline A. Carleton (Parte 1)
Autorregulação – Parte 1
Jacqueline A. Carleton, Ph.D.
Publicado originalmente em Energy & Consciousness, International Journal of Core Energetics, vol. 1, pp. 15–45, inverno de 1991.
© Institute of Core Energetics – ISSN 1050-5326
Nota editorial para leitura terapêutica
Nesta adaptação, substituímos termos acadêmicos por equivalentes usados em Core Energetics e Pathwork: núcleo (core self), energia vital (fluxo bioenergético), couraça (bloqueio/armadura) e autorregulação (capacidade orgânica de o organismo ajustar-se a partir do núcleo, sem coerção externa).
Introdução
Ao longo do século XX, pesquisadores começaram a mapear, de forma sistemática, os inúmeros fatores que moldam o vínculo entre adultos e crianças. Além das variações familiares, também investigaram experiências fora do lar, como a educação comunitária em kibutzim e formatos diversos de cuidado diurno.
Este artigo revisa uma proposta intencional de criação de filhos conhecida como autorregulação.
O nome mais difundido ligado a essa proposta é A. S. Neill, diretor da escola Summerhill na Inglaterra e autor do livro homônimo (1960). Desde a década de 1940, Neill e colaboradores publicaram artigos explicando, atualizando e ilustrando tais princípios em linguagem prática.
A essência da autorregulação consiste em responder às necessidades primárias do bebê e da criança, de modo que necessidades secundárias (defensivas e reativas) surjam o mínimo possível. Quando isso ocorre, o organismo funciona sem conflito interno ou resistência crônica (Raknes, 1970).
Princípios centrais
Barbara Koopman (Journal of Orgonomy) ressaltou a centralidade do funcionamento sexual saudável — na criança, traduzido em vitalidade corporal, curiosidade, prazer inocente e autoexploração adequada à idade. A partir dessa premissa, ela derivou algumas orientações: aceitar a vida sexual infantil em nível apropriado, estabelecer limites éticos claros, oferecer privacidade e não interferir sem necessidade, cultivar uma atitude adulta respeitosa, garantir cuidados básicos (amamentação sob demanda, alimentação escolhida pela própria criança dentro de opções nutritivas, desfralde conforme prontidão) e diferenciar contato amoroso de gratificação indiscriminada.
Morton Herskowitz, em aula na NYU em 1976, complementou essas ideias: manter contato visual e tátil logo após o parto; não circuncidar por rotina; amamentar sob demanda, permitindo sucção livre; respeitar o desmame autônomo; oferecer variedade de alimentos sólidos e respeitar a auto-escolha; adiar o desfralde até que haja maturidade fisiológica (idealmente entre três e quatro anos); no estágio fálico (3 a 6 anos), permitir curiosidade genital e brincadeiras entre pares; em todas as fases, permitir expressão de raiva, tristeza ou ódio, sem que isso implique ferir outras pessoas.
O pressuposto energético é claro: ao satisfazer impulsos naturais, o sistema nervoso não precisa desenvolver drives secundários destrutivos. Cuidar do que é básico não é mimar, mas promover autonomia e contentamento.
Contexto histórico
A autorregulação surgiu como antídoto ao autoritarismo rígido da era vitoriana. Décadas depois, voltou-se também contra o polo oposto: a permissividade excessiva.
Neill, ao reagir a infâncias marcadas por rigidez, deu espaço ao autogoverno discente e permitiu descargas emocionais intensas como caminho para a energia criativa. Patricia Greene, por outro lado, descreveu em sua experiência escolar o efeito da permissividade: crianças ansiosas, frágeis, incapazes de sustentar a liberdade e necessitadas de uma função de sustentação (holding). Koopman, em consultório, observou algo semelhante: pais calorosos, porém omissos em contato real e em limites claros, produziam crianças egocentradas e famintas de amor.
Em síntese, a autorregulação se coloca entre dois extremos: autoritarismo e permissividade. Liberdade significa a expressão dos impulsos do núcleo. Já as expressões que vêm da couraça (ódio compulsivo, ganância, ciúme, teimosia rígida) configuram licenciosidade.
A. S. Neill e as origens dessas ideias
Embora Summerhill tenha popularizado o tema, Neill teve como precursor Homer Lane, criador do Little Commonwealth, comunidade reformatória autogerida por jovens na Inglaterra. Lane defendia estar “do lado da criança”, abolir punições, confiar no crescimento espontâneo em autogoverno e colocar os afetos acima da intelectualização.
Em 1927, Neill fundou Summerhill e, em 1937, conheceu Wilhelm Reich em Oslo. Reconheceu nele a ligação entre psique e soma e passou a estudar sua obra de perto. Dessa amizade nasceu a ponte entre liberdade educacional e autorregulação biológica.
Autorregulação em Reich
Reich ampliou a noção de liberdade para além do campo pedagógico, introduzindo a dimensão energética. Para ele, autorregulação é uma condição de caráter vinculada à genitalidade natural, expressa em abertura, espontaneidade e racionalidade.
Em 1940, criou o grupo de estudo do “bebê saudável”, voltado a observar o desenvolvimento natural desde o nascimento. Para Reich, o recém-nascido chega com um sistema energético plástico e produtivo, capaz de fazer contato e moldar seu ambiente. A tarefa da educação é remover obstáculos a essa produtividade natural.
Ele não propôs um manual, mas sim a observação clínica e empírica dos processos autorregulatórios em ação. Como afirmou em 1950: “Precisamos aprender com as crianças, não projetar nelas ideias distorcidas.”
Diretrizes práticas
Paul Martin (1942–43) sistematizou princípios de uma “pedagogia sex-econômica”, que ecoam até hoje na clínica somática: reconhecer a criança como sujeito de direitos; permitir movimentos de contato espontâneo; respeitar ritmos orgânicos como sono e alimentação; preservar o prazer corporal e a naturalidade da masturbação infantil; apoiar a exploração do mundo sem conduzir; e estabelecer limites que surjam do núcleo, protegendo sem sufocar.
Outros autores — como Ilse Ollendorff Reich, Felicia Saxe e Richard Singer — reforçaram esses pontos com estudos de caso e aplicações práticas em família, escola e clínica.
Do excesso de liberdade à licenciosidade
Com as mudanças culturais dos anos 1960, muitos interpretaram de forma superficial as ideias de Reich e Neill, confundindo liberdade com caos permissivo. Educadores como Patricia Greene e Richard Blasband insistiram que a criança só pode receber tanta liberdade quanto sua estrutura suporta com segurança.
Koopman foi clara: as ideias de Reich seguem válidas, mas foram distorcidas. O problema não está nos princípios, mas na aplicação — marcada, muitas vezes, pela couraça dos adultos que distorce a noção de autorregulação.
Caminho de longo prazo
Para Reich, essa transformação é necessariamente geracional. À medida que mais crianças forem criadas sob princípios de autorregulação, emergirá um tecido social menos armado.
Como escreveu em 1950, não cabe aos adultos definir o futuro, mas remover os obstáculos para que as próximas gerações façam melhor.
O que virá na Parte 2
- As três vertentes principais da literatura sobre criação de filhos.
- O corpus de Reich (1927–1955) sobre infância, família, sexualidade e sociedade.
- Contribuições de Ellsworth Baker e um protocolo prático do pré-natal à adolescência.
- Estudos de caso de escolas livres e famílias autorreguladas.
- Implicações para pais e terapeutas contemporâneos.
Mensagem final da Parte 1:
Autorregulação não significa ausência de limites. Trata-se de sustentar necessidades primárias, oferecer contato real, permitir afeto autêntico e conter aquilo que fere a vida. No corpo, manifesta-se como respiração plena, pulsação energética, vitalidade sexual adequada à idade, enraizamento e capacidade de autoapaziguamento.
Trabalhando com Trauma Genital por Barbara G. Koopman
Trabalhando com Trauma Genital
Barbara G. Koopman, M.D., Ph.D.
Publicado na revista ENERGIA E CONSCIÊNCIA, vol. 7, 1999
R. é um homem branco, casado, de 36 anos, estrangeiro, que trabalha com importação e exportação. Veio para os Estados Unidos sete anos antes para iniciar terapia orgônica. Suas principais queixas eram ejaculação precoce e “incapacidade de expressar agressividade”. Ele passou por seis meses de terapia, que considerou muito positiva, com melhorias significativas. Em alguns momentos, surpreendia-se respondendo com raiva sem pensar, o que, embora positivo como sinal de espontaneidade, também quase lhe custou o emprego e amizades próximas.
Quando seu terapeuta se mudou de estado, R. foi morar em Nova York, mas perdeu os avanços conquistados. Voltou a apresentar dificuldades sexuais, depressão, sensação de desconexão e pensamentos obsessivos. Após cinco anos sem terapia, iniciou tratamento comigo em outubro de 1990. Devido a dificuldades financeiras, as sessões foram esporádicas, totalizando 39 encontros até o momento desta escrita.
Exame Psíquico e Bioenergético
R. se apresentou como um homem inteligente, de fala suave, com aparência apropriada e porte físico mediano. Seu comportamento era agradável, submisso, cauteloso e distante, com pouco contato visual. A afetividade era restrita; a fala, divagante e obsessiva.
No exame bioenergético, seu campo mostrava-se “estagnado”, com pouca mobilidade ou carga. A postura corporal era rígida, com acúmulo de couraça nos olhos, mandíbula, garganta e tórax. O diafragma estava contraído, e a pelve imóvel. A couraça não era fortemente muscular, mas se manifestava por rigidez e anorgonia (ausência de prazer vital).
História Infantil
R. é o segundo filho de uma família de classe média do interior. Seu irmão mais velho, atlético e popular, o ridicularizava, chamando-o de “menina” ou “maricas” quando ele chorava. Tinha três irmãs mais novas, com uma das quais mantinha certa proximidade. O pai era distante e emocionalmente ausente; a mãe, limitada e sobrecarregada, não conseguia protegê-lo das provocações do irmão.
Apesar disso, R. guarda boas lembranças da infância até os sete anos, quando passou por uma série de cirurgias devido a um testículo não-descido. A última intervenção incluiu uma circuncisão completamente desnecessária, feita sob o argumento de que ele “urinava torto”. Descobriu-se depois que médicos riam dele, dizendo que seu pênis enfaixado parecia um “velhinho”. Ele foi submetido a banhos dolorosos de camomila quente para amolecer os pontos. Não foi preparado emocionalmente, nem informado de que seria operado. Acordou da cirurgia já com os pontos.
Processo Terapêutico
Inicialmente, o foco foi observar e corrigir reações transferenciais, buscando desfazer projeções e distorções da realidade de forma empática, o que ajudou a construir uma relação de confiança. Como suas feridas eram muito profundas, esse trabalho teve de ser contínuo, delicado e repetitivo. Os temas sexuais e agressivos estavam profundamente conectados ao trauma genital precoce. Por isso, busquei criar um ambiente seguro, acolhedor e sem julgamentos — reforçando que ele não estava sozinho e que eu era sua aliada incondicional, independentemente de seu desempenho.
Devido à sua estagnação energética e depressão, também trabalhei seu corpo vigorosamente, sempre com seu consentimento. Como o diafragma está localizado sobre o centro autônomo do campo energético, propus como exercício a ingestão e regurgitação de seis copos de água morna diariamente, para mobilizá-lo. Ele respondeu positivamente.
Na entrevista inicial, R., que não chorava há anos, surpreendeu-se com um choro espontâneo ao acessarmos pela primeira vez o trauma genital da infância. Ao longo das sessões, novas memórias esquecidas emergiram de forma espontânea, resultado do contato empático e do trabalho corporal. Nunca o direcionei a um sentimento específico, mas permiti que fosse guiado por seu próprio campo energético.
Em alguns momentos, surgia raiva, mas o afeto predominante era a dor pela perda genital. Exemplo disso foi a exclamação: “Perdi meu pênis”, quando reviveu a circuncisão aos 10 anos. Nessas ocasiões, voltava a falar em sua língua materna, apesar de seu excelente inglês. Esses sentimentos estavam ligados a sensações de abandono e isolamento profundos.
Comentário
O crescente foco no abuso infantil e suas consequências, como exemplificado pelo trabalho de Alice Miller, tem sido valioso para reconhecer a importância de recuperar traumas infantis e revelar seu papel fundamental na formação de defesas psíquicas. Em O Drama da Criança Bem Dotada (seu melhor trabalho, na minha opinião), Miller amplia o conceito de abuso infantil para incluir o abuso emocional e a carência afetiva — algo que Reich já identificava como os efeitos destrutivos do “condicionamento bioelétrico negativo”.
Miller mostra que mesmo pais “bondosos” podem causar danos profundos por sua incapacidade de ressonância emocional — algo que a orgonomia entende como ausência de contato orgonótico.
No caso de R., vemos a combinação de privação emocional precoce, pais sem contato afetivo e um irmão fálico que menosprezou sua masculinidade e inibiu sua expressão emocional. Mesmo que o trauma genital não tivesse ocorrido, se R. tivesse tido o que Winnicott chamou de um ambiente de “sustentação afetiva”, poderia ter se desenvolvido de forma mais saudável.
A combinação entre privação emocional, insensibilidade e cirurgias invasivas levou R. a desenvolver defesas de ocultamento, distanciamento, submissão e intelectualização — formas de sobreviver à dor psíquica e genital.
No fundo, todos os pacientes constroem defesas contra a genitalidade — entendida como a capacidade de direcionar a energia vital ao mundo com empatia, criatividade e autoexpressão. Essas defesas frequentemente revelam feridas tão profundas que confiar se torna quase impossível.
R. começou sua jornada com muitos obstáculos. No entanto, é um indivíduo decente e com grande potencial, que agora mostra sinais de abertura e conexão crescente consigo mesmo e com os outros.
Barbara G. Koopman, M.D., Ph.D.
Psiquiatra e analista reichiana. Texto publicado originalmente em Energy & Consciousness, vol. 7, 1999.
A verdadeira Religião (pelo Guia de Eva Pierrakos)
Você poderia explicar o que é “religião verdadeira”, em comparação com a atitude errada? Onde entra a fé em Deus e sua ajuda?
O Guia: Você sentirá que Deus é uma ajuda quando você chega à religião verdadeira depois de abandonar a muleta da religião falsa, mas em um sentido completamente diferente. Agora você precisa da ajuda de Deus porque se torna indefeso. Então você sentirá a ajuda de Deus porque perceberá a perfeição do universo e suas leis, das quais você é parte integrante e contribuinte. Você sentirá que é a força motriz de sua vida. Você pode ajudar a si mesmo se realmente quiser, se estiver pronto para sacrificar algo.
Digamos que você deseja a felicidade em uma determinada direção – e isso não é um sentimento vago, mas um objetivo claramente definido. Você procurará e descobrirá como evitou essa felicidade até agora, e o que agora pode fazer para obtê-la com seus próprios esforços. Você entenderá o que isso exige de você e caberá a você atender a essas exigências porque decidiu que elas valem a pena ou abster-se delas. Mas não haverá uma sensação corrosiva em sua alma de que você é uma criança negligenciada e tratada injustamente.
A verdadeira religião é maturidade espiritual e emocional. O papel de Deus não é fornecer coisas que você não deseja obter para si mesmo. Mas a consciência de Deus revelará a você que o mundo dele é maravilhoso e que você tem muito mais poder do que já percebeu, bastando colocá-lo em movimento removendo seus próprios obstáculos à realização.
A falsa atitude religiosa surge quando você pede a Deus para ajudá-lo a superar uma dificuldade em sua vida e então você se senta e espera. Você não examina suficientemente por que tem essas dificuldades. Você pode fazer isso peremptoriamente, porque outra pessoa em posição de autoridade lhe disse para fazer isso.
Mas, mesmo enquanto tenta fazer esse exame, tende a tentar provar que não tem nada a ver com as dificuldades. Acabou de cair sobre você sem merecimento, e não há como escapar disso, a menos que Deus intervenha com um ato de graça. Você não reúne a vontade e o vigor interior para descobrir como pode realmente obter o que deseja com sua própria criatividade.
Deus está em você. As forças divinas estarão em você se você as mobilizar, em vez de esperar que venham de fora. E a mobilização dessas forças só pode acontecer se você abandonar alguma atitude prejudicial, algo destrutivo que, novamente, depende de você descobrir. A força e a segurança advindas dessa atitude lhe darão um relacionamento totalmente diferente com Deus, bem como um conceito de Deus totalmente diferente. Emocionalmente, as palavras muitas vezes permanecem as mesmas, mas o conceito e o clima interno serão diferentes.
As palavras são freqüentemente as mesmas tanto para a religião verdadeira quanto para a falsa, mas a experiência interior é totalmente diferente. Tanto a religião falsa quanto a verdadeira dizem que a graça de Deus existe. Mesmo que você esteja sozinho, a graça ainda existe. Mas esse entendimento não virá até que você assuma a responsabilidade por si mesmo. Enquanto você espera que a graça de Deus compense sua preguiça e ganância humanas, você deve estar desapontado, admitindo ou não isso para si mesmo.
Então você fica magoado, com raiva e rebelde. Você então ou se afasta totalmente de Deus, negando sua existência no universo, ou você se considera um caso isolado de negligência, em parte indigno de sua graça e ajuda, e em parte tratado injustamente. Então você se afunda na culpa e na autopiedade. Isso o torna mais dependente e desamparado – e assim o círculo vicioso continua em expiação por sua rebelião contra Deus, apaziguando-o ainda mais com obediência temerosa que é inteiramente superficial e causada pelas motivações mais doentias.
Mas como podemos fazer isso? Esta imagem de Deus está tão embutida em nós depois de tantas décadas aprendendo a falsa atitude. A oração também não mudaria se descartássemos esse conceito? Tudo não mudaria?
O Guia: Sim, claro. Mas você não pode dizer: “Agora vou descartar minha imagem de Deus”. (Aula # 52 A Imagem de Deus) Não é algo que você pode simplesmente decidir em sua mente. Isto não funciona dessa forma. Seu impacto emocional permaneceria se você tentasse mudá-lo por uma mera decisão externa. Para tomar uma decisão interna, o procedimento tem que ser o mesmo de sempre neste trabalho.
Encontre essas atitudes e compreenda-as mais plenamente. Se isso for feito profundamente, não apenas superficialmente, todos vocês ficarão surpresos ao descobrir o quão longe vocês foram para perpetuar à força a infância. Depois de analisar e compreender certos padrões de comportamento emocional, você perceberá como eles são absurdos; quão incompatível com sua crença consciente; quão contrário aos seus melhores interesses; quão logicamente impossível.
Depois de ver e compreender tudo isso, a mudança acontece organicamente, por si mesma, por assim dizer. Um certo período de auto-observação é necessário para obter um insight completo e, então, ser capaz de mudar.
Você deve encontrar essas reações emocionais sutis e discretas. Eles não são óbvios nem fortes. Nem estão completamente inconscientes. Eles estão lá, mas são sutis, e você está tão acostumado com eles que nem mesmo vê nada de errado. Encontrá-los e analisá-los é o primeiro passo e depois vê-los à luz desta discussão.
Isso ajudará a dissolver a imagem de Deus porque sua atitude mudará naturalmente. Você descobrirá, por exemplo, quais são realmente as suas expectativas, como reclama por dentro. Você descobrirá o que poderia fazer para tornar essas expectativas uma realidade e compreenderá por que não o fez. Este deve ser o procedimento.
O próprio fato de você estar ciente dessa imagem de Deus o torna extremamente afortunado; muitos outros nem mesmo estão cientes disso. Eles estão convencidos de que não têm nenhuma distorção a esse respeito. Eles não conectam certas reações emocionais com essa imagem de Deus, com a falsa atitude religiosa. Eles estão cheios de suas crenças conscientes corretas, enquanto seus conceitos inconscientes ainda estão muito longe da consciência.
Qual religião está mais longe da verdade?
O Guia: Não se pode fazer tal declaração. Pode ser que uma denominação religiosa tenha ensinamentos mais verdadeiros, mas outra que tenha menos pode, em sua atitude geral, estar mais perto da verdade. Além de ser perigoso fazer tais comparações, a questão não é importante.
Uma das últimas palavras de Cristo foi: “Pai, seja feita a tua vontade”. Tomado como exemplo, isso poderia significar obediência ou liberdade. Qual é?
O Guia: Exatamente. As palavras geralmente são as mesmas. A verdade pode ser facilmente mal interpretada porque a essência da verdade é a vontade e a capacidade de compreender. Por exemplo, de Aula # 88 Religião: Verdadeiro e Falso, você poderia facilmente inferir que não pode haver graça de Deus. Se você deveria ser livre e independente, onde entra a graça? Você nem precisaria disso. Isso não é verdade. A graça existe.
Mas nenhuma palavra pode transmitir o conceito de graça, a menos que você tenha primeiro alcançado essa verdadeira experiência religiosa interior. Quando você não precisar mais da graça como um substituto para sua própria fraqueza, quando você deixar de tirar proveito de sua fraqueza, então você se tornará forte. Por um tempo você viverá sem qualquer compreensão da graça, mas então o verdadeiro conceito surgirá em você. Em outras palavras, esse estado provisório de solidão deve primeiro ser experimentado. Os grandes místicos a designam como a “noite escura da alma”.
O ditado que você acabou de mencionar, “seja feita a tua vontade”, significa, corretamente entendida, “Eu deixo de lado minha pequena obstinação, de minha visão limitada e me abro para que o divino possa vir a mim.” Não virá de fora, mas de dentro, como um profundo conhecimento e certeza, mas somente se você não se desassociar dessa realização. A experiência de unidade com o divino só pode acontecer se você aprender a deixar ir, se deixar de ser rígido.
O falso significado de “seja feita a tua vontade” faz a humanidade parecer fraca e estúpida, de forma que você precisa de outro ser para agir e decidir em vez de você. Este outro ser é freqüentemente uma autoridade humana ou autoridade da igreja que afirma agir em nome de Deus. “Seja feita a tua vontade” não significa obediência; significa abrir-se o máximo possível para que a sabedoria maior se torne parte de você.
Pelo que você diz, fica claro que a religião é uma questão de cada alma individual se desenvolver até seu ponto ideal por meio de busca e auto-realização. As igrejas têm desempenhado um papel dominante por muitos anos, portanto, parece que sua função acabaria. Isso é correto?
O Guia: Sim, realmente vai. Quando mais pessoas seguirem um caminho de auto-reconhecimento, crescendo e desenvolvendo seus próprios recursos, elas não precisarão mais de autoridade. Quanto àqueles que ainda não estão suficientemente longe em seu desenvolvimento, a lei humana será suficiente para proteger a sociedade de seus impulsos indomáveis e destrutivos. O verdadeiro divino só pode funcionar em almas livres, e isso acontecerá. Toda a tendência da história aponta nessa direção.
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É possível uma fé em Deus e no amor, sem maturidade emocional?
O Guia: Isso é impossível, se falamos do amor verdadeiro, da vontade de se envolver pessoalmente, e não da necessidade infantil de ser amado e querido, que tantas vezes se confunde com amor. Para que o amor verdadeiro e a fé verdadeira e genuína existam, a maturidade emocional é uma base necessária. Amor, fé e imaturidade emocional são mutuamente exclusivos.
A capacidade de amar é um resultado direto da maturidade e do crescimento emocional. A verdadeira fé em Deus, no sentido de verdadeira religião em oposição à falsa religião (Aula # 88 Religião: Verdadeiro e Falso), é novamente uma questão de maturidade emocional, porque a verdadeira religião é autodependente. Não se apega a uma autoridade paterna pela necessidade de ser protegida. Falsa fé e falso amor sempre têm a forte conotação emocional de necessidade.
O verdadeiro amor e a verdadeira fé vêm da força, autossuficiência e responsabilidade própria. Todos esses são atributos de maturidade emocional. Somente com força, autossuficiência e responsabilidade própria é possível o verdadeiro amor, envolvimento e fé. Qualquer pessoa que já atingiu o crescimento espiritual, conhecido ou desconhecido na história, teve que ter maturidade emocional.
Sonhos Noturnos e a Desconstrução Intencional das Imagens Negativas de Si MESMO
Jornal Energia e Consciência Volume 2 1992
Por Francis X. Clifton
Introdução
Como construir exercícios imaginais individualizados que, se praticados, irão desconstruir as imagens negativas de si mesmo é o tema deste artigo. Para construir esses exercícios imaginais, devemos primeiro ser capazes de contatar essas identidades negativas dentro de nós mesmos, e os sonhos noturnos são uma maneira de fazer isso. Portanto, será introduzida uma análise dos sonhos noturnos sob a perspectiva da fenomenologia psicológica antes de instruirmos sobre a construção de exercícios imaginais.
Descobrir o “o que é” negativo de nossas vidas e desconstruir a identidade de si mesmo andam de mãos dadas, porque, se não estamos cientes de uma determinada identificação negativa de nós mesmos, não somos livres para mudá-la.
Sob a perspectiva fenomenológica, os sonhos noturnos podem ser vistos como a presença direta do “o que é” de nossas vidas. Os sonhos noturnos são acontecimentos essenciais nos quais encontramos certos fenômenos entrando em nossa abertura e receptividade. Às vezes, nos sonhos, nos vemos existindo em modos específicos de ser. Pode ser um modo de medo, raiva, evitação, expansividade ou um dos literalmente milhões de modos que podemos existir enquanto seres humanos. A experiência de sonhar nos oferece a oportunidade única de ser simultaneamente o observador e o observado e, através dessa observação e experiência de nós mesmos vivendo de determinada maneira no sonho, somos capazes de aceitar esse modo de ser como nosso, seja o modo considerado positivo ou negativo.
Além de nos vermos existindo em certas formas de ser em nossos sonhos, também nos vemos em relação a certos fenômenos que aparecem, seja uma pessoa, lugar ou coisa. Por que essas pessoas, lugares ou coisas específicas, dentre as bilhões de imagens que poderiam ter entrado em nosso sonho, aparecem, é uma questão que esta abordagem sempre busca responder. Além de descobrir o significado das pessoas, lugares ou coisas que aparecem, o sonho sempre deve ser compreendido historicamente. Às vezes, exemplos de sonhos revelam dramaticamente um fator histórico em nossas vidas.
Por exemplo, o sonho de um professor universitário de matemática de 35 anos, durante um período de seis meses. Ele tinha uma excelente capacidade de recordar seus sonhos e, durante esse período, 80% de seus sonhos o encontravam nos primeiros dois anos do ensino médio. Noite após noite, ele estava em sua escola antiga: sentava na sala de aula, comia no refeitório e vagava pelos corredores. Esse homem havia iniciado um tratamento para lidar com sentimentos de depressão e sua incapacidade de desenvolver relacionamentos com mulheres. Ele era um gênio da matemática e havia sido admitido em uma universidade da Ivy League após seu segundo ano do ensino médio. Ao revisar seus sonhos, ele afirmou que estar no ensino médio foi a última vez que se sentiu socialmente confortável. Ele se sentia igualmente desconfortável aos 15 anos na faculdade, assim como aos 17 anos, quando era doutorando. Os sonhos permitiram que ele visse que, em algum momento de sua vida, ele se sentiu socialmente confortável, e a partir daí, quando sonhava em se ver como socialmente alienado, exercícios de imaginação foram desenvolvidos para desconstruir essa imagem de si mesmo.
Sonhos, Presença e Deconstrução
O primeiro sonho desta série foi relatado por uma mulher na faixa dos 40 anos que entrou nesta forma de terapia porque sentia que estava em um novo limiar de sua vida e estava experimentando confusão e ansiedade.
– Eu sonhei que estava caminhando por uma cidade montanhosa e cheguei a um dormitório universitário. Eu era uma nova aluna. Em seguida, me vi na escola de enfermagem, onde me inscrevi para as aulas. Mas, enquanto fazia isso, eu sentia que estava esquecendo meu propósito principal. Todos os professores e enfermeiras queriam que eu ficasse, mas eu queria fugir e chegar ao lugar onde deveria estar.
O sonho a encontra existindo como uma nova aluna universitária, tendo se estabelecido em um dormitório após subir uma colina. Quando questionada sobre como essa parte do sonho se relacionava com sua vida atual, ela afirmou que refletia sua sensação de estar começando algo novo em sua vida, embora estivesse ansiosa, da mesma forma que estava quando começou a faculdade anos atrás. Ela afirmou que a residência no dormitório se relacionava com sua tendência de lotar sua vida, uma vida muitas vezes sem privacidade.
Na próxima parte do sonho, ela se vê se inscrevendo na escola de enfermagem, mas sente que está esquecendo seu propósito principal. O que a escola de enfermagem tem a ver com sua vida e como isso se relaciona com o esquecimento de seu propósito principal? A vida dessa mulher sempre foi uma de cuidar dos outros: pais, irmãos, parceiros e funcionários. Não foi surpresa para ela que estivesse entrando na escola de enfermagem. O que a surpreendeu foi que esse modo de ser (inscrever-se na escola de enfermagem) a impediu de perceber seu propósito principal.
A parte final do sonho a vê ciente de querer fugir da escola de enfermagem para encontrar o lugar onde ela deveria estar. Professores e enfermeiras tentam persuadi-la a ficar, mas ela quer ir embora. O sonho termina com ela querendo ir, mas ao mesmo tempo ouvindo as pessoas que querem que ela fique. Ela rapidamente percebeu que em sua vida desperta, sempre que se afastava de ser essa pessoa “cuidadora”, ouvia os protestos dos outros.
Esse sonho revela um modo de ser em que ela se nega em prol dos outros. O auto-sacrifício é uma qualidade admirável, mas quando é uma reação habitual e não uma escolha autêntica, acaba se tornando uma forma de obscurecer a si mesma. Neste sonho, essa mulher de 45 anos não sabe qual é seu propósito principal. Outros (professores e enfermeiras) facilmente lhe atribuem um, mas ela só sabe que não quer estar ali. Em termos fenomenológicos, pode-se dizer que esse modo de ser dela (auto sacrificante) bloqueia sua abertura e receptividade para descobrir seu propósito principal em diferentes momentos de sua vida. Esse modo de ser, essa identidade de “cuidar dos outros”, precisa ser desconstruído antes que ela possa se abrir para novos horizontes.
Conclusão
Este artigo abordou exclusivamente a presença de identidades negativas dentro de nós que se manifestam nos sonhos noturnos, mas deve-se entender que essas imagens negativas também podem surgir em exercícios imaginais. Vimos que o processo de deconstrução imaginal é realmente um processo em duas partes. Primeiro, é uma prática de atenção a si mesmo que busca trazer maior consciência das identidades negativas dentro de nós. Essas identidades negativas obscurecem nossa abertura e receptividade para novos modos de ser ou, dito de outra forma, essas imagens negativas bloqueiam nosso processo de transformação.
Segundo, é uma prática de intenção de si mesmo, na qual realizamos exercícios imaginais com a intenção específica de desconstruir um modo particular de ser. O termo “exercício” origina-se do latim ex-arcere, que significa “expulsar de uma área fechada”. Isso é exatamente o que esses exercícios imaginais de deconstrução têm a intenção de realizar, já que a prática do exercício é tirar a nós mesmos da prisão de nossas identidades negativas.
Desconstrução
Prática de Autoatenção
- Descobrindo o modo negativo de “o que é” em nós mesmos que aparece como imagens dentro de nossos sonhos ou imaginação.
- Aceitando diariamente, por várias semanas, essa identidade negativa como nossa.
Modos Negativos de Ser Identificados:
A. Modo de ser o cuidador automático.
B. Modo de ser em que não se consegue voar em direção ao horizonte.
C. Modo de ser em que a sensualidade e a sexualidade se enrijecem.
D. Modo de ser que nega o próprio poder.
E. Modo de ser que se afasta de indivíduos agressivos e competitivos.
F. Modo de ser em que se está preso e afundado até os joelhos em um pântano lamacento, com os pais e irmãos olhando de cima.
Prática de Auto-Intenção
- Com a aceitação dessa identidade negativa, vem a intenção de “deixar ir”.
- Exercícios imaginais que devem ser realizados diariamente por várias semanas para deconstruir intencionalmente o modo negativo de ser.
Exercícios Imaginais Correspondentes:
A. Ver, sentir e experimentar-se fugindo da escola de enfermagem.
B. Ver, sentir e experimentar-se tomando o controle do pai e pilotando a máquina.
C. Ver, sentir e experimentar-se escoltando os pais para fora do quarto.
D. Ver, sentir e experimentar-se descongelando e fazendo amizade (brincando) com a pantera negra.
E. Ver, sentir e experimentar-se competindo contra cada estudante em um concurso de saltos.
F. Ver, sentir e experimentar-se extraindo a si mesmo de sua própria imobilidade no pântano e subindo para o nível de seus pais e irmãos.
Os efeitos da Core Energetics nos níveis de estresse e no funcionamento imune de indivíduos HIV Positivo por Ethan Dufault
(Considerações prévias: Este presente estudo foi publicado no jornal Energia e Consciência em 1991, há aproximadamente 33 anos atrás. O tema estudado é um assunto que avançou bastante em sua compreensão da época para os dias de hoje. Solicitamos ao leitor que compreenda este texto como um documento histórico da Core Energetics e absorva deste o melhor que puder, compreendendo suas limitações e possíveis compreensões já não atuais sobre um assunto de certa forma sensível. Também ressaltamos que nenhuma terapia alternativa e de suporte substitui tratemtentos médicos convencionais, apenas complementam através de outras vias em pro da saúde do indivíduo. Boa leitura!)
Introdução
“O chamado corpo é uma porção da alma discernida pelos cinco sentidos.” – William Blake
Estudos recentes que exploram a relação entre o estresse psicossocial, o funcionamento imunológico e estados de doença indicaram que o estresse gerado por fatores de personalidade e métodos de enfrentamento pode ser um cofator na suscetibilidade, progressão e prognóstico de doenças (Achterberg, Lawlis, Simonton & Mathews Simonton, 1977; Sklar, Anisman, 1981; Sklar, Bruto, Anisman, 1981). A ligação entre o estado mental e o funcionamento imunológico também pode ser relevante na Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), como sugerido por Coates, Temoshok & Mandel, 1984; Temoshok, 1987; Moulton, Sweet, Temoshok, Mandel, 1987; Zich, Temoshok, 1987; Laperriere, Schneiderman, Antoni, Fletcher, no prelo. No entanto, ainda há muito trabalho a ser feito para estabelecer esse fato.
Além disso, problemas metodológicos abundam na determinação desse tipo de questão, pois existem inúmeras interações “multifatoriais bidirecionais” (Temoshok, Solomon, 1987, p. 287) envolvidas na resposta imunológica. Essas interações incluem interdependências entre fatores psicossociais (FP), o Sistema Nervoso Central (SNC), o Sistema Endócrino (SNE), o Sistema Imunológico (SI) e outros, bem como entre esses sistemas e um antígeno específico, como o HIV.
Essa pesquisa psicossocial é de extrema importância, pois, embora ainda não tenha sido desenvolvida uma vacina para a AIDS e considerando a composição molecular da bainha proteica do vírus (Hall, 1988), é improvável que uma vacina seja encontrada no futuro próximo. Como o período de latência da AIDS (ou doença do HIV, também chamada de Complexo Relacionado à AIDS [ARC]) varia de um a quinze anos, e devido à dificuldade de quantificar fatores psicossociais e outros aspectos intangíveis, esta pesquisa é urgente.
Este estudo parte da premissa de que uma das variáveis “difíceis de quantificar” pode ser a bioenergia, ou Orgone, como isolada por Wilhelm Reich durante seus estudos sobre a Biopatia do Câncer. Reich foi o primeiro na medicina ocidental a tentar provar que a capacidade de um organismo se defender contra o câncer e outras doenças depende da presença de uma pulsação bioenergética ótima no corpo. Embora conceitos de energia (como chi e prana) sejam fundamentais nas práticas médicas chinesa e ayurvédica há milênios, foi apenas com a pesquisa de Reich que essa ideia começou a ser aplicada no Ocidente.
Medicina Psicossomática e Reich
De acordo com a pesquisa psicossomática, vivemos em uma sociedade que frequentemente nos apresenta demandas que superam nossa capacidade de resposta. Além disso, muitas pessoas sofrem de padrões caracterológicos que, em certos casos, dificultam uma adaptação saudável às exigências da vida. As formações de compromisso, definidas por Freud como neuroses, são frequentemente prejudiciais. Quando indivíduos reprimem seus impulsos agressivos e libidinais para se ajustarem às demandas sociais e do ego, acabam sacrificando seu funcionamento emocional espontâneo, tornando-se mais vulneráveis a doenças.
Quando atitudes como competitividade, agressividade e hostilidade são inibidas no comportamento voluntário, o sistema adrenal simpático entra em excitação sustentada, levando a sintomas vegetativos resultantes da ativação prolongada do sistema nervoso simpático (Alexander, 1950). Reich foi um dos principais proponentes de uma visão psicossomática da saúde e doença, e suas teorias sobre energia bloqueada, decorrente de uma “blindagem” caracterológica, foram inovadoras, apesar de controversas.
Em sua pesquisa sobre o câncer, Reich introduziu o conceito de “biopatia”, que ele definiu como qualquer doença provocada por uma perturbação crônica na pulsação biológica do corpo. Embora sua teoria fosse considerada monoteológica (exagerando o componente psicológico), ela tentou racionalizar uma nova maneira de entender as doenças, que contrastava com a abordagem biomédica tradicional. Para neutralizar os efeitos dessa pulsação perturbada, Reich desenvolveu técnicas e teorias dentro da “Análise de Caráter”, que ajudaram terapeutas a facilitar o acesso do paciente e a liberação de emoções reprimidas, além de restaurar a energia corporal.
O Efeito da Energia no Corpo
Reich propôs que as estruturas defensivas do caráter, juntamente com a rigidez muscular, são fatores causais de muitas doenças, pois bloqueiam o fluxo natural de energia no corpo. A pulsação, um processo de contração e expansão que ocorre durante expressões emocionais (como riso, tristeza e raiva), é vital para o bem-estar. No entanto, o estresse emocional prolongado interfere nesse processo, tornando o corpo rígido, impedindo o fluxo adequado da energia e favorecendo o surgimento de doenças.
A solução proposta por Reich, Alexander Lowen e John Pierrakos (fundadores da Bioenergética e da Core Energetics) foi dissolver essa “blindagem” muscular por meio de técnicas como massagem, respiração profunda, movimentos faciais e corporais, e exercícios como socos e estiramento. Essas técnicas não só atuam sobre o corpo, mas também sobre a psique, ajudando a liberar padrões de defesa e restaurar o equilíbrio energético do organismo.
A Terapia Reichiana e o Estresse
A terapia reichiana pode ajudar na redução do estresse, promovendo um profundo relaxamento através da liberação emocional e ativação dos sistemas respiratório e cardiovascular. Diversos estudos comportamentais sugerem que intervenções psicossociais que induzem esses efeitos são benéficas tanto para indivíduos em geral quanto HIV positivos. Um estudo realizado na Universidade de Miami examinou a relação entre parâmetros imunológicos e capacidade de enfrentamento em um grupo de alto risco para HIV. Os resultados mostraram que a expressão emocional, particularmente a raiva, estava correlacionada com melhorias no funcionamento imunológico.
Outro estudo investigou os efeitos de exercício aeróbico em pessoas de alto risco com e sem a doença HIV. O exercício resultou em benefícios psicológicos e fisiológicos, incluindo um aumento nas populações de linfócitos T, tanto para os HIV positivos quanto para os não infectados.
Objetivo do Estudo
Este estudo teve como objetivo investigar a eficácia da Core Energetics no tratamento de indivíduos HIV positivos, visando demonstrar uma correlação entre a liberação de bloqueios energéticos e melhorias no funcionamento imunológico. O estudo foi conduzido com oito indivíduos HIV positivos, sendo monitorados ao longo de dezesseis semanas para medir as mudanças nos níveis de estresse e nas funções imunológicas. O estudo tenta estabelecer uma conexão entre a intervenção psicoterapêutica e a imunomodulação, sugerindo que o trabalho com energia pode ser um cofator no início ou prognóstico da doença HIV.
Exercícios de Core Energetics Utilizados
A meditação foi usada em apenas duas ocasiões durante o programa. O diário foi utilizado intermitentemente como uma ferramenta de processo, principalmente, e começou a ser eliminado gradualmente ao final das 16 semanas. Como este artigo se concentra na utilidade da Core Energetics como uma terapia “alternativa” para pacientes HIV positivos, vamos nos concentrar neste aspecto da intervenção, deixando de lado a questão da influência dos outros dois aspectos da variável independente. No entanto, vale ressaltar que a meditação Nada Brahma poderia ser substituída por qualquer técnica voltada para a “resposta de relaxamento” (Benson, 1974, p. 117) e é recomendada para equilibrar a carga, muitas vezes intensa, que a Core Energetics pode gerar. O programa de diário utilizado foi o Método de Diário Intensivo de Ira Progoff (Progoff, 1975), que foi bastante útil para fornecer uma estrutura arquetípica em torno da qual os participantes puderam organizar sua experiência interna do HIV e da intervenção oferecida.
Os exercícios de Core Energetics aplicados foram diversos. Inicialmente, foram utilizados a cada duas semanas, e depois semanalmente, no último trimestre. Eles também foram usados para aquecer os participantes antes das sessões de escrita no diário. As técnicas foram aprendidas no programa de treinamento do Institute of Core Energetics, em Nova York. (Para descrições detalhadas de muitos dos exercícios, consulte o livro de Lowen, The Way to Vibrant Health, 1977). As instruções para os seguintes exercícios foram dadas:
- Aterramento
- O Arco
- Sobre o Rolo
- Vibração da Perna Reclinada
- A Onda Respiratória
- Corrida com Vocalização
- Pular no Lugar
- Bater Acima da Cabeça
- Socos
- Círculo de Ressonância
Mudanças Imunológicas Observadas
As mudanças nos fatores imunológicos indicam o possível impacto da intervenção com Core Energetics. Quatro dos oito indivíduos tiveram aumento nas contagens de linfócitos T-4, enquanto os outros quatro apresentaram diminuição. A proporção T-4/T-8 também mudou favoravelmente em todos os casos, exceto em um. No entanto, o debate sobre a função das células T-8 (suprimir a resposta imunológica ou realizar ação citotóxica) levanta dúvidas sobre os efeitos de sua redução. A diminuição das células T-8 pode diminuir a inibição do sistema imunológico, aumentando a resposta imune geral, ou pode ser prejudicial devido à redução das células citotóxicas, tornando o corpo mais vulnerável ao HIV. A questão ainda precisa de mais estudos para uma resposta conclusiva.
Análise das Contagens de Linfócitos
Apesar das variações nas contagens de linfócitos T-4 e T-8, os aumentos observados não foram estatisticamente significativos, já que permaneceram dentro da faixa de referência normal de 537-1.571 células. Mesmo quando houve aumento nas contagens de T-4, elas não ultrapassaram o nível de normalidade em indivíduos com contagens subnormais. No entanto, os aumentos em dois indivíduos (S4 e S6) foram consideráveis, comparáveis aos aumentos observados com o medicamento AZT.
Conclusão
Embora o estudo não tenha abordado questões sistêmicas amplas, como o impacto psicossocial/imunológico mais abrangente da intervenção, ele explorou os efeitos das intervenções psicocomportamentais, como a Core Energetics, no fortalecimento do sistema imunológico e no bem-estar psicossocial de indivíduos com HIV. Embora os resultados não provem uma resposta definitiva, sugerem que essas intervenções podem gerar aumentos imunológicos moderados e, pelo menos, promover uma sensação de controle e esperança, associada ao enfrentamento ativo da doença.
A Core Energetics, pode, de fato, ser uma técnica terapêutica importante, com potencial para influenciar positivamente a saúde emocional e física de indivíduos imunologicamente comprometidos. Embora a eficácia ainda não tenha sido completamente comprovada, as evidências sugerem um potencial real para melhorar a função imunológica. Além disso, a Core Energetics pode ser particularmente relevante em conjunto com intervenções médicas tradicionais, especialmente no tratamento de doenças como a AIDS, que causam grande impacto psicológico. A técnica é vantajosa devido ao uso do toque e de exercícios redutores de estresse, sendo adequada para pacientes enfrentando doenças fatais.

